Confederação dos Povos do Sul.
terça-feira, 28 de março de 2017
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
4. Evolução
paleoambiental
5.1-
Evolução do clima durante o Quaternário e a consequente evolução Geomorfológica
da costa Portuguesa
5.1.1 - Oscilações do valor da
temperatura
A
teoria de Milankovitch, hoje universalmente aceita, explica as oscilações da
temperatura com os ciclos das variações orbitais para os períodos mais longos e
para os períodos mais curtos com as manchas solares, ENSO – El Niño Oscilação
do sul e NAO - Oscilação Atlântico
norte. Estas teorias poderão ser comprovadas pelas sondagens nos fundos dos
oceanos. Relativamente ao número de oscilações, Bradley afirmou:
“ mas elas perdem-se no ruído do registo
climático de tempo longo, apenas as mudanças de maior amplitude são
detectáveis”; e relativamente ao seu número Lowe e Walker, afirmaram “ … tendo-se formalmente
identificado 116 fases nos últimos 2,73 Ma …“
5.1.2 - Pleistocénico – as
glaciações
A época do pleistocénico iniciou-se
acerca de 1,8 milhões de anos e foi caracterizada por glaciações sendo a
glaciação de Wurn, a ultima grande glaciação que se terá iniciado há cerca de 80
000 anos AP e terminado há cerca de 20 000 anos - 18 000 anos AP. Daveau, S
(2004). Os testemunhos geológicos, como são os depósitos glaciares, dão-nos a
manifestação das glaciações causadas pela descida muito acentuada da
temperatura em todo o planeta, a qual terá variado em cerca 7º a 17º C em
diferentes áreas do globo, e que se estima terem sido no actual território
Português em cerca de 10º C. Esta oscilação térmica, repercutiu-se
inevitavelmente na formação de glaciares e uma acentuada descida do nível médio
do mar (nmm). O nmm localizava-se a entre
-120 a -140 metros abaixo do nível actual Dias, (1985, 1987). A frente
polar chegava ao actual norte de Portugal, chegando mesmo icebergs a Marrocos.
Ocorria forte erosão, devido a bastante precipitação e fusão estival dos gelos.
1.1.1. - Holocénico – subida do nível do
mar e alterações da linha de costa
Após a UGG, o clima vai aquecer, o nível do mar vai
subir rapidamente dos -140 / -130 m há cerca de 18 000 anos até atingir o nível
actual à cerca de 4500 anos atrás, embora com oscilações devidas a várias
glaciações de menor dimensão. Com o inico da fusão dos gelos o nível médio do
mar sobe entre 16 000 anos AP (antes do presente), até 11 000 AP. O processo de
subida da temperatura e do nmm, só foi interrompido de forma mais significativa
com Dryas recente (III) há cerca 11 000 - 10 000 anos AP. Este evento foi
causado pela enorme quantidade de água doce provenientes da fusão glaciaria e
em consequência modificações oceanográficas. Logo depois, entramos no período
actual, o holocénico, onde ocorre nova modificação climática. A temperatura
volta a subir e em consequência nmm do mar também, tendo-se verificado o
desaparecimento do Inlandis escandinavo e dos glaciares da Grã-Bretanha Chaline
J, (1985). Em consequência o mar invadiu muitas terras – transgressão
flandriana – até ao óptimo climático. Há cerca de 5000 - 4000 anos AP, o nmm
aproximou-se ao nível actual. Na actual costa Portuguesa, o litoral recortado
começa a ser preenchido com sedimentos estuarinos – histerese. A costa
gradualmente e por acção dos factores naturais, vai sendo rectificada, processo
que aumenta no último milénio por acção antrópica. São exemplos as lagoas da
Pederneira - Nazaré, Alfeizerão
e
Óbidos localizadas no vale do diápiro das Caldas da Rainha. O clima favorável
do período quente medieval favoreceu o crescimento populacional e ocorreu a
consequente desflorestação, o que acelerou a sedimentação, a qual com a
corrente de deriva litoral originou uma costa mais arenosa nos locais
favoráveis, como é a costa entre Espinho e a Nazaré.
A área entre a Figueira da Foz e a
Nazaré, sofreu uma importante invasão marinha no pliocénico médio, atingindo
áreas a 24 km da costa actual, ou seja até aos relevos de maior elevação a
leste. O clima quente e húmido, o qual promoveu uma intensa meteorização
química (caulinização) da rocha mãe, associado a um elevado caudal dos cursos
de água, resultou num intenso assoreamento. Ramos et al.( 2009). Esta
plataforma foi já no plistocénico inferior, sujeita a forte erosão com a
formação de encaixes fluviais e terraços, devido à descida do nmm. O
rebaixamento do nível de base, fez com que os estuários fornecessem muito
sedimento para o litoral. O litoral ficou assim constituído por vastos campos
dunares, com muito transporte eólico. O processo não foi contínuo e sofreu
inversões com os períodos interglaciários e também com o levantamento regional.
Após a estabilização do nmm do mar, há cerca de 4000 anos, as áreas fluviais e
marítimas de pouca profundidade vão gradualmente ficar emersos, devido à forte
sedimentação, muita dela acentuada por intervenção humana, causada pela
desflorestação. Para isso contribuiu a sedentarização do homem e a consequente
agricultura. Este processo antrópico foi gradualmente acentuando-se com o
aumento da população num território de cariz mediterrâneo. São exemplos deste
processo de construção do litoral e do progressivo assoreamento, entre Mira e
Espinho, as lagoas acima referidas e ainda Grândola e tombolo de Peniche. É de
referir que o processo de construtivo do litoral se terá reforçado entre os
anos 600 e 1000, devido ao aumento dos temporais e das precipitações. Por acção
da corrente de deriva litoral, e por acção do vento, os agentes vão assim
criando territórios novos Dias (2004).
1. - Os impactos das alterações do clima na
vegetação
Os diferentes climas e as dinâmicas
geomorfológicas implicaram alterações na flora e mesmo no comportamento humano.
Nos períodos frios a actual costa portuguesa serviu de refúgio
“ A península
Ibérica é geralmente assumida como um dos refúgios do sul da Europa para as
condições adversas da última época glacial. A sua localização de latitude
baixa, quando comparada à restante Europa, permitiu um clima mais tolerante
embora afectado pelos mesmos processos de instabilidade, resultando num
ambiente dinâmico em todo o final do quaternário” Gomes (2007)
“ Devido à
proximidade do mar, os territórios litorais e sub-litorais constituíram refúgio
a plantas termófilas, na sequência das diferentes glaciações.” Gomes 2007
“ O
holocénico começa com uma expansão arbórea, primeiro de Betula e Pinus (10 000
a 9500 BP) e depois de Quercus caducifólios (9500-8600) ” Paleoclimas e história da la vegetación – Garcia et al
(2000).
“
A Península Ibérica configura-se como um local de extrema importância para a
análise de padrões paleogeográficos na distribuição da fauna e flora”. Gomes (2007).
A
formação dunar antiga da MNL, contem a pequena profundidade (até meio metro),
uma cimentação de ferro-húmico, semelhante ao horizonte B dos solos podzólicos,
e é vulgarmente designado de surraipa. A génese deste horizonte está
relacionada com o processo de lixiviação e com a presença de húmus ácidos
produzidos pelas folhas acerosas da vegetação dominante (Pinus) e juntamente
com a areia forma o horizonte A2. Este processo é lento e é indicativo da
antiguidade da cobertura vegetal. André e Cordeiro ( 2006). Este tipo solo,
Podzol, permitiu a permanecia de água e humidade suficiente, para se manterem
plantas características de climas mais húmidos, como é o caso dos
tojais/urzais, os quais são próprios das charnecas atlânticas das montanhas do
NW da Península Ibérica. A podzolização, ao permitir a formação de surraipa,
permite que com pouca precipitação, as plantas urzal/tojal, possam subsistir em
certos locais onde a presença humana não se fez sentir em demasia e deste modo
persistir uma comunidade vegetal que é idêntica ao período do atlântico (6500
anos AP).
6.1 Interpretação dos Diagramas
polínicos
Na nota explicativa da folha 22-D (Marinha Grande), da
carta geológica de Portugal (1965), é referido a existência nas imediações do
farol de São Pedro de Moel, de um depósito do plistocénico com pólenes de Pinus
pinaster.
Todos
estes trabalhos vão no mesmo sentido de que o Pinheiro esteve presente no
actual território Português, pelo menos desde há milhares de anos, mas
progressivamente a sua presença foi reduzindo-se até ser sujeito à
reflorestação. Estes trabalhos foram direccionados para a temática da evolução
da vegetação, da costa, do clima e do impacto humano. Analisando os diagramas
polínicos da lagoa do Saloio, verifica-se que a espécie Pinus pinaster está
presente nos diferentes níveis das sondagens, embora seja igualmente patente a
diminuição dos valores de pólen de pinus ao longo do tempo. De cerca de 80%
(figura A), chega a menos de 20% (figura D) e recupera nos níveis mais recentes
(figura E). Ao nível cronológico, a autora refere na sua tese que “a base do
depósito da lagoa do saloio datará do início do Holocénico (10000 - 8000AP) “.
Os diagramas polínicos expostos na Tese de Mateus,
foram realizados a partir das sondagens efectuadas no lugar Lagoa da Travessa e
Figueira de Baixo - Carvalhal, município de Grândola, ficando a cerca de 2 kms
da costa. Estes locais têm estruturas anteriores à época do Holocénico, e foram
sujeitos ao enchimento a partir do período boreal. O antigo podzol existe por
debaixo das modernas dunas. Estas lagoas fizeram parte de um antigo vale
pleistocénico. Por estas e outras características, estas lagoas estudadas por
Mateus são locais muito importantes para o estudo dos ambientes
antigos.
O autor, no seu estudo considerou dois tipos de solos: os interflúvios dunares,
caracterizados por solos pobres e ácidos constituídos por solos arenosos, (Podzol
degradados) que são o domínio dos pinheiros bravos e os vales caracterizados
por solos mais ricos como os fluvissolos cambissolos, domínio da quercetea
ilicis.
Relativamente às florestas e aos
pinhais, o autor refere na sua obra: “ Pinus pinaster foi o sub-tipo dominante
antes de 4100 AP”.
Com o estudo da tese e na análise concreta dos
diagramas polínicos, é possível verificar claramente a presença de pólen de
pinheiro e em concreto de Pinus Pinaster desde à 7500 AP. Verifica-se ainda que
a frequência diminui até cerca de 2500 AP, e depois há um ligeiro aumento da
espécie pinaster e um aumento significativo da espécie pinea, assim como um
aumento do pólen dos arbustos. Podemos sucintamente considerar que o percurso
do decrescimento da presença de pinus pinaster se pode dividir em níveis de
decrescimento: Desde o início do holocénico até 6400 AP, as vastas dunas
antigas estavam ocupadas por pinheiro bravo. Com o aquecimento do clima e o
consequente avanço do mar e possível contribuição antrópica, há um declínio da
presença de pinhal até 4000 AP. Este processo acentua-se numa terceira fase até
3200 AP, uma vez que se acentua um período seco associado à presença humana.
Este mesmo declínio aumenta até 1600AP.
6.2
Paleoecologia arqueológica
É consensual que há de facto uma relação entre o
Homem e a floresta. A correlação que se estabelece é positiva entre o aumento
da população e desflorestação. Deste modo quando a arqueologia estuda a
evolução humana, e ao entender o seu comportamento e hábitos, nomeadamente a
alimentação, isto é se a mesma é mais ou menos sedentária, pode ajudar a
entender também a tendência recessiva ou expansiva da floresta. À medida que o
aquecimento climático, decorreu após as glaciações, e que há o recuo da linha
de costa e a expansão da floresta, os grandes mamíferos, deixam de ter os
grandes espaços e migram para a alta montanha. Com o auxílio da antropologia e
do método da termoluminescência, nas pesquisas a diversas jazidas, localizadas
nos maciços calcários da serra dos Candeeiros, de Aire e de Sicó foi possível
concluir (Zilhão) por um povoamento antrópico de grande mobilidade e também no
aumento do consumo de recursos aquáticos por parte do homem a partir do
pré-boreal, como é exemplo o sítio da pedra do patacho. Pelo contrário não foi
encontrada qualquer jazida antes de 10000 AP, que documentasse consumo de
alimentos de origem aquática. Este tipo de consumo documenta assim menor caça.
É assim possível perceber que a densificação da floresta implicou a deslocação do
homem para a proximidade dos estuários. Só posteriormente com o neolítico, o
homem ocupa de novo vastas áreas com o desenvolvimento da agricultura e com a
desflorestação.
1. O
recrudescimento do Pinus Pinaster por via da plantação
O Pinus pinaster, consegue sobreviver às
glaciações e posteriormente à acção antrópica. O homem que foi o principal
agente na destruição das florestas, pela necessidade de espaços, principalmente
para a agricultura vai servir-se do pinheiro bravo para o ajudar na protecção
dessa mesma economia, quando surgem esses novos territórios que são as dunas
litorais. A mata Nacional de Leiria, é propriedade do Estado desde que D. Diniz
a doou à rainha D. Isabel, tendo ficado conhecido como pinhal do Rei.
Este pinhal, cedo deixou de ser apenas um local de caça e de
lazer para a realeza, para vir a ter um papel muito importante na protecção dos
campos agrícolas com a estabilização das dunas, bem como no fornecimento de
madeira para a construção naval. O pinheiro bravo foi a árvore de eleição, para
este tipo de território, e o homem reconhecendo a sua inata capacidade de
adaptação ao meio, nomeadamente aos ventos atlânticos, ao mar, aos solos pobres e recentes
como são as dunas. Acrescente-se ainda o facto de a espécie ter um
crescimento relativamente rápido. Há algumas referencias históricas em documentos antigos que
indicam a existencia de uma floresta nesta região, noemadamente:
“…. E passa por Melvua, atee a mata de Pataias, donde corta
direito por entre a Pederneira, & Muel até chegar ao mar … “ - Carta de
doação passada por Dom Afonso Henriques ao Mosteiro de Alcobaça
““ em carretar a nossa madeira que vem do nosso pinhal de Leiria pollagoa
ao traves” Excerto de crónica de Fernão
Lopes“
A importância da mata foi crescendo não só porque a
areias aumentavam por via da desflorestação, mas também porque as necessidades
de madeira iam aumentando com o desenvolvimento da frota naval devido ao
comércio marítimo e às descobertas.
Assim ao longo dos séculos
a mata foi constantemente intervencionada, mas nos
finais do século XIX e início de XX, o processo de
semeadura foi mais forte, nomeadamente na parte mais próxima da costa.
Junto à
costa foram construídas defesas, paliçadas, que deram origem a uma duna
primária, a qual foi fixada com o auxílio de vegetação, nomeadamente estorno
(Ammophila arenaria), madorneira (Artemisia Crithmifolia), tojo
arnal Ulex europaeus), giesta (Spartium junceum), camarinheira (Corena álbum) e
sargaço (Citus monopeliensis).
8 - Síntese
Em 1938 Arala Pinto no seu livro o “Pinhal do Rei”
levanta a questão se o pinhal terá sido de facto introduzido pelo Rei Dom
Diniz, o qual segundo a lenda teria mandado vir penisco de França. Na carta de
doação de Dom Afonso Henriques ao Mosteiro de Alcobaça, relativamente à
delimitação, pode ler-se o seguinte“...e passa por Muelva, atee a mata de
Patayas... “; e na carta de foral de Dom Diniz à Dona Isabel é referido … “a
foz do val Madeyro..”. É ainda referido pelo autor que fora encontrado lenhite no
talhão 249, da mata. O autor lança algumas questões como: 1- Mediando apenas 42
anos entre o reinado de Dom Diniz e o reinado de Dom Fernando como é que o
pinhal poderia ter tomado tal desenvolvimento de forma e importância apontada
por Dom Fernando? 2- Como teria tido Dom Diniz a visão da fixação das
areias cinco seculos antes dos franceses?
As sondagens realizadas em diferentes locais de
Portugal como os dois locais apresentados Travessa e Saloio, coincidem nos
resultados, ou seja na presença do pinus pinaster desde pelo menos 7580AP. Mateus
e Queiroz (1993: 125) referem a existência de uma extensão máxima florestal,
que dominaria com a espécie Pinus pinaster todo o litoral “ provavelmente em
toda a costa de substrato arenoso não consolidado, do Porto a Sines”.
Os documentos históricos são um importante auxílio à
compreensão dos ambientes antigos. Essa informação neste caso reforçou as
conclusões de diferentes estudos de diferentes domínios da ciência.
9.
Conclusão:
Este relatório, com base no
extraído nos diferentes estudos e nas pesquisas relativas ao tema, finaliza com
a convicção de que o
pinheiro esteve sempre presente no actual território
Português, tendo resistido às glaciações, aos diferentes climas e à acção antrópica.
O carácter pioneiro do pinheiro e as suas características, fizeram da espécie
Pinus pinaster a árvore dominante desde à muitos milhares de anos no actual
território português, sabendo-se adaptar a solos pobres como são as dunas, e às
dinâmicas litorais. Assim a Mata Nacional de Leiria, é o resultado do esforço
do homem, mas principalmente da resistência do pinheiro bravo. Outra questão é
saber se esta árvore vai resistir a mais uma adversidade que é a concorrência
do eucalipto e de uma nova doença como é o Nemátodo.
4.1.2
Geologia e Litologia
A
Mata Nacional de Leiria fica situada numa bacia sedimentar detrítica, a
oeste da orla mesocenozóica, a norte do promontório da Nazaré e a sul do
promontório da Figueira da Foz. Ribeiro et al., (1979).
Esta bacia é constituída segundo Zbyszewki & Torre de Assunção (1965), por
siltes, areias e areolas; sedimentos quaternários e neogénicos que assentam,
sobre formações jurássicas e cretácicas, sendo que estas últimas apenas parecem
pontualmente na Mata Nacional de Leiria. O pinhal de Leiria em concreto
estende-se essencialmente numa faixa de areias dunares holocénicas, que
apresentam granulometria fina e bem calibrada. Junto à costa há pequenos
afloramentos de rochas eruptivas como doleritos e
andesitos do mesozóico. Da Época do pliocénico há pequenos afloramentos nas
arribas de S. Pedro de Moel e em grande extensão na parte oriental da mata.
Estes são constituídos por areias amarelas, acastanhadas ou acinzentadas,
podendo ter seixos e calhaus rolados. Relativamente ao quaternário, as
formações são constituídas por dunas, areias de duna, areias de praia, aluviões
e sedimentos plistocénicos, sendo que as dunas são formações dominantes, da
costa à Marinha Grande.
4.1.3
- Relevo e geomorfologia
A
área em análise é assim dominada pelo litoral. Os litorais são sistemas
complexos, reúnem em si as diferentes esferas: geosfera, hidrosfera, atmosfera
e biosfera. São as zonas mais dinâmicas da superfície terrestre, o que torna
complexo a pormenorização da evolução dos ambientes costeiros ao longo dos
milénios. A sul do mondego formaram-se campos
dunares longitudinais com uma orientação de WNE - ESE, estabilizadas pela
vegetação, nomeadamente pelo Pinus pinaster. Estas 3 formações correspondem a
1ª ao plistocénico final, a 2ª ao holocénico inicial e a 3ª da idade média à
actualidade. Onde a presença das areias eólicas é pouco espessa, afloram rochas
mesozóicas, nomeadamente no ribeiro de Moel. A duna primária, junto à costa tem
origem no ripado construído pelo homem. Para o interior sucedem-se dunas
transversais com orientação WNW-ESE, de acordo com o vento dominante, que
culminam num grande cordão dunar e que na carta topográfica de 1841, era o
limite ocidental do pinhal. Neste local foram encontrados pinheiros soterrados,
e que a datação nuclear mostrou corresponderem à pequena idade do gelo. Mais
para leste ficam os outros dois cordões dunares, já bastantes erodidos e entre
os mesmos, dunas transversais. Assim, a área da Mata Nacional de Leiria
apresenta relevo aplanado a ondulado, consoante a dimensão das dunas.
4.1.4
– Solos
Na classificação dos solos de
Portugal da autoria de Cardoso et al
(1973), os solos da Mata Nacional de Leiria e de uma forma geral os que ocorrem
sobre as formações Miocénicas, Plio-Plistocénicas e dunares da região entre
Espinho e Nazaré são solos Potzolizados. Na tese de Marques (2010), o autor
defende que os solos são de facto Arenossolos e que os Podzois são pouco
frequentes na MNL.
4.1.5
– Enquadramento biogeográfico
A Mata Nacional de Leiria, fica numa zona de
Transição - atlântica e mediterrânea – insere-se no sector no Superdistrito
Costeiro-Português, no Subsector Oeste-
-Estremenho e na província biogeográfica Gaditano Onubo – Algaviense. A
localização geográfica reúne (táxones mediterrâneos e atlânticos).
O
Superdistrito Costeiro Português é um território litoral de areias e
arribas calcárias, que se estende desde a Ria de Aveiro até ao Cabo da Roca. É essencialmente
termomediterrânico. Armeria welwitschii subsp. cinerea e Limonium
plurisquamatum são endémicos deste Superdistrito
4.2 – Flora dominante
Além
do Pinus pinaster, espécie dominante, abundam ainda as seguintes espécies de
plantas: Torga-ordinária (Calluna vulgaris (L.) Hull), a Sargaça (Halimium
calycinum (L.) K. Koch), o Sanganho-manso (Cistus salvifolius L.) –
figura 3, o feto-ordinário (Pteridium aquilinum (L.) Kuhn), Tojo
arnal-do-litoral (Ulex europaeus ssp. Latebracteatus L.). Existem
ainda outras espécies mais raras como Tápsia (Thapsia villosa L.), o Folhado
(Viburnum tinus L.) e a Salva-bastarda (Teucrium scorodonia L.).
4.2.1
Características da espécie Pinus pinaster e sua localização actual
O pinus pinaster é uma árvore de porte médio que
atinge 20 a 40 metros de altura e os 40 a 50 cm de diâmetro à altura do peito
de um homem. A polonização é anemófila e a dispersão da semente (penisco) é
efectuada pelo vento. A árvore tem dois tipos de raízes (superficiais e
profundantes), sendo que as primeiras asseguram a estabilização da mesma,
conduzem a seiva e as segundas asseguram a fixação ao solo e o acesso à água da
toalha freática. O pinheiro forma ainda micorrizas, o que lhe permite a sua
notável capacidade de colonizar solos muito degradados. Para a sua defesa, a
árvore produz resina, a qual tem a função de protecção contra os insectos. Não
necessita de solos muito profundos, somente entre 30 a 60 cm e tolera níveis baixos
de salinidade e calcários. Produz ainda uma grande quantidade de sementes com
grande capacidade de dispersão. Por estas
características,
o pinheiro-bravo tem uma enorme plasticidade quanto às condições climáticas, e
hoje pode ocupar praticamente todo o território Nacional, se bem que as
condições ideias passam por uma precipitação média anual superior a 800 mm, com
um mínimo de 100 mm no verão e uma temperatura entre os 20º C e os -15º C,
sendo assim uma espécie pioneira na sucessão ecológica, e das primeiras a
colonizar solos nus ou incipientes. É o género mais antigo da família Pinacea,
que é originário do Mesozóico médio. No Cretáceo já havia dois subgéneros e a
sua presença manteve-se nas latitudes médias do hemisfério norte até aos dias
de hoje, variando a sua intensidade e localização em função principalmente do
clima existente.
3.
Introdução
As questões do ambiente e as alterações
climáticas são cada vez mais assuntos não só da comunidade científica, como da
sociedade em geral. “Pensar o passado para compreender o presente e preparar o futuro” – Heródoto.
Este pensamento continua actual, no entanto apesar da evolução das tecnicas há
sempre limitações. “ Ao trabalhar-se o passado ( remoto ou recente), o
investigador não tem a possibilidade de proceder à replicação
experimental”, …” a actividade do investigador está limitada ao domínio das
hipóteses, que podem ser mais ou menos consubstanciadas com novos dados, mas
que nunca podem ser confirmadas factualmente” (Dias 2004). A Mata Nacional de
Leiria tem uma história tão antiga como a nacionalidade Portuguesa e o pinheiro
bravo está-lhe intersectado, fazendo sentido procurar a história do Pinus
pinaster num território tão marcante, tão simbólico e como disse Barros Gomes “
o maior e mais antigo monumento vivo de Portugal”.
3.1 – Objectivos da investigação.
Este
trabalho procura saber como nasceu a ligação do pinheiro à Mata Nacional de
Leiria. O trabalho começa por recuar até à última grande glaciação, procurando
saber se o pinheiro bravo resistiu aos períodos glaciares no actual território
Português e à desflorestação, de modo a compreender se o Pinus pinaster hoje
dominante em Portugal se ficou a dever à posterior plantação por parte do homem.
Esta questão tem sido tarefa abordada por diversos autores em diferentes
estudos, e apesar de algumas divergências, a maioria dos investigadores vão no
sentido de o Pinus pinaster ser uma espécie autóctone. Assim, este trabalho
recua muito antes do tempo da 1ª dinastia e tenta encontrar na articulação dos
diferentes saberes da ciência as respostas à curiosa questão. Já outros o
fizeram, desde logo em 1938, quando Arala Pinto publica a sua obra “ O Pinhal
do Rei”. É este percurso no passado, que este trabalho procura sintetizar,
cimentando uma conclusão com as diferentes perspectivas e os com os diferentes
ramos do conhecimento. Neste contexto, a Mata Nacional de Leiria
é um território
que se enquadra nesta problemática um dos melhores exemplos da intervenção
humana e do ordenamento, bem como é um território que preserva não só
testemunhos antigos da presença antrópica, mas também conserva do ponto de
vista geomorfológico. Acrescenta-se que a presença do homem
influenciou desde cedo os habitats e a floresta, nomeadamente desde o
neolítico.
3.2 - Metodologia:
de
estudo na actualidade, nas suas diferentes vertentes físicas, de modo a fazer
uma caracterização da mesma, bem como abordar o estudo das características da
espécie Pinus pinaster (objecto central do trabalho). Na etapa seguinte o
estudo virou-se para o passado, de modo a compreender a evolução ambiental,
local e regional de modo a extrair conclusões que permitam perceber o percurso
do pinheiro bravo até aos dias de hoje. Para fazer este percurso ao passado, a
descoberta do mesmo, passa por interpretar os testemunhos encontrados na
natureza. Assim, considerando que o espaço temporal e logístico para a
realização deste trabalho é bem limitado, a consulta de trabalhos publicados
relativos ao tema, é inevitável. Pelo que, foram consultados e analisados
resultados já obtidos por diferentes autores e ramos do conhecimento. Assim,
para além da análise dos diagramas polínicos, e do seu valor probatório,
interpretou-se os estudos arqueológicos numa perspectiva ambiental, bem como
foi estudada a evolução geomorfológica, e ainda numa dimensão mais recente
recorreu-se à consulta de documentação relativa à intervenção humana. Foi ainda
tomado em consideração os trabalhos publicados relativos à análise
cromossómica, ou seja dos marcadores genéticos, os quais podem reforçar os
outros indicadores. Em síntese exploraram-se as diferentes dimensões de modo a
ser criada uma convicção forte nas conclusões a efectuar neste estudo.
4. -
Enquadramento geográfico da área de estudo
4.1 - Caracterização física sucinta
da Mata Nacional de Leiria
4.1.1
- Clima
A área de estudo é relativamente ao clima de tipo mediterrâneo. “ no verão, o clima mediterrâneo reina por toda a parte, no litoral e no interior, na terra chã e nas serranias” (O Ribeiro, 1945, 1963).
domingo, 3 de janeiro de 2010
Subscrever:
Mensagens (Atom)